Hipomagnesemia
Por: Dr. José de Felippe Junior
Deficiência de Magnésio no Organismo
(magnésio inferior a 1,4mEq/I)
A determinação sérica do magnésio não se correlaciona com a reserva corporal total do elemento, podendo ocorrer hipomagnesemia, quando o conteúdo celular do cátion é normal, ou depleção celular sem a queda dos valores séricos. Se o quadro clínico for sugestivo do distúrbio e o valor do magnésio no soro normal, necessitamos da medida do conteúdo eritrocitário e a excreção urinária de 24h do elemento.
As causas e os mecanismos de produção da hipomagnesemia são mostrados no Quadro 3.
Na cetoacidose diabética, grandes quantidades de magnésio são perdidas na urina na fase de poliúria e acidose. A concentração do Mg ++ segue habitualmente o mesmo padrão do K +: encontra-se usualmente elevada antes do tratamento (pode chegar a 9,3 mEq/I) e cai rapidamente durante a insulino-terapia e hidratação (pode chegar a níveis de até 0,5mEq/I).
No alcoolismo é frequente o aparecimento de hipomagnesemia, na presença ou ausência de cirrose ou delirium tremens. O álcool favorece a excreção renal de magnésio, são frequentes as perdas gastrintestinais por vômitos e diarréia e alguns alcoólatras apresentam perda renal e intestinal do elemento pelo hiperaldosteronismo secundário (cirrose).
Quando um paciente toma diuréticos, costumamos prescrever suplementos de K +, porém nos esquecemos do Mg ++. Muitas arritmias induzidas pelo digitálico e com K + sérico normal são provocadas pelo déficit de Mg ++.
No hiperparatireoidismo e na moléstia osteolítica maligna, encontramos a associação de hipercalcemia e hipomagnesemia. Alguns destes pacientes apresentam reflexos hiperativos, tremores e convulsões, que são abolidas com a administração do sulfato de magnésio.
Manifestações clínicas. A sintomatologia costuma aparecer com concentrações séricas inferiores a 1mEq/I, porém muitos pacientes são assintomáticos mesmo nesses níveis tão baixos.
A hipomagnesemia leva à hiperexcitabilidade neuromuscular, às vezes acompanhada de distúrbios do comportamento. Digno de nota é o aparecimento de tetania clinicamente impossível de distinguir daquela causada pela hipocalcemia, exceto que ela somente reverte ao normal com a administração de magnésio. É também frequente o aparecimento de convulsões generalizadas ou focais, ataxia, vertigem, fraqueza muscular, tremores, depressão, irritabilidade e comportamento psicótico. Todos esses distúrbios são revertidos com a administração do elemento em falta. Os sinais e sintomas da hipomagnesemia são mostrados no Quadro 4.
A depleção de magnésio aumenta a perda renal de potássio, a enzima Na++-K+ -ATPase, a qual depende do magnésio, é inibida pelos digitálicos e a depleção de magnésio aumenta a concentração de digoxina no miocárdio. Assim, a hipomagnesemia e os digitálicos possuem efeitos aditivos, provocando a perda de potássio do músculo cardíaco e, como resultado, ela pode precipitar arritmias cardíacas, particularmente nos indivíduos digitalizados. Essas arritmias caracterizam-se pela refratariedade parcial ou total ao tratamento usual, respondendo, entretanto, à administração de magnésio.
Alguns autores não acreditam que a hipomagnesemia possa provocar arritmias no paciente digitalizado.
As alterações eletrocardiográficas, quais sejam, depressão do segmento ST com achatamento ou inversão da onda T, também são reversíveis com a administração do cátion.
A hipomagnesemia constitui-se em fator de risco para a aterosclerose e retinopatia diabética. Existem dados que suportam a hipótese de que a deficiência de magnésio está associada com a morte súbita na moléstia isquêmica do coração por produzir espasmo de coronária. A hipomagnesemia induz à supressão da glândula paratireóide, com consequente diminuição dos níveis circulantes de PTH.
Quadro 3 – Causas e mecanismos da hipomagnesemia
_________________________________________________________________________
A – Redistribuição compartimental
- Glicose e aminoácidos intravenosos
- Realimentação de desnutrido
- Correção da acidose em insuficiência renal
- Cetoacidose diabética tratada
- Pancreatite aguda
- Pós-paratireoidectomia
B – Perda gastrintestinal
- Diarréia – Vômito
- Sucção nasogástrica prolongada
- Fístula biliar ou intestinal
- Enterite regional
- Síndrome de má absorção
- Ressecção intestinal extensa
C – Perda Renal
- Diuréticos
- Diurese osmótica ou salina
- Hiperaldosteronismo primário e secundário
- Excesso de álcool etílico ou carboidrato
- Hipopotassemia
- Hipercalcemia
- Hipertireoidismo
- Nefropatia por aminoglicosídeos, glomerulonefrite, pielonefrite, hidronefrose, acidose tubular renal, nefropatia tubulointersticial familial com hipopotassemia
- Transplante renal
D – Outras
- Sudorese profusa
- Queimadura extensa
- Líquido de diálise sem magnésio
- Lactação excessiva
- Hiperparatireoidismo
- Moléstia osteolítica malígna
- Alcoolismo ( perda gastrintestinal, renal e desnutrição )
Quadro 4 – Sinais e sintomas da hipomagnesemia
_________________________________________________________________________
A – Sistema nervoso central
Confusão, irritabilidade, delírio, alucinações, psicose, rebaixamento do nível de consciência
B – Neuromuscular
Tetania (sinal de Chvostek, sinal de Trousseau, espasmo carpo-podal, convulsões generalizadas ou focais, hiperreflexia e clônus, fasciculação muscular, tremores, fraqueza muscular, dificuldade nos movimentos finos, insônia, nistagmo, ataxia, vertigem, disartria, movimentos musculares involuntários atetóides ou coreiformes de extremidades.
C – Cardíacos
Taquicardia sinusal ou nodal,extra-sístoles ventriculares ou atriais, precipitação de arritmias principalmente na presença de digitálico
Eletrocardiograma: depressão do segmento ST e achatamento ou inversão de onda T.
D – Gastrintestinais
Anorexia, vômitos, íleo paralítico, má absorção
E – Eletrolítico
Hipopotassemia, hipocalcemia
F – Outros
Incontinência urinária, púrpura _________________________________________________________________________
Fonte:
Dr. José de Felippe Junior