A esclerose múltipla afecta o sistema nervoso central, também designado por sistema nervoso cerebroespinal, porque compreende os órgãos cerebrais – cérebro, cerebelo e bulbo raquidiano – e os órgãos espinais, como a medula espinal e todos os nervos motores sensitivos que deles derivam. É graças ao sistema nervoso central que nos apercebemos do que nos rodeia e que agimos em consequência. Os cinco sentidos informam-nos das características do meio em que nos encontramos. As informações recebidas pelos nervos sensitivos são transmitidas ao cérebro pela medula espinal, que elabora as respostas às solicitações externas.
Apesar de a informação que penetra ser sempre sensitiva (sensação de frio, de ardor, aroma agradável, suave, ácido, percepção visual dos objectos, das pessoas, etc.), a resposta é sempre motora. O cérebro e a medula espinal, agora através dos nervos motores, desencadeiam a contracção dos músculos dos nossos membros. É através do movimento que agimos sobre o exterior; por exemplo, deslocamo-nos em direcção ao objecto de que nos apercebemos para podermos agarrá-lo, escrevemos e falamos uns com os outros, etc.
Por exemplo, como adultos, nem sequer reflectimos sobre a forma de mover os membros para podermos andar. No entanto, na primeira infância, a arte de caminhar foi objecto de aturada aprendizagem. Foi necessário aprendermos a coordenar os nossos movimentos e a encontrar o equilíbrio, ao cabo de muitas tentativas, de um treino contínuo e… de inúmeras quedas. Se agora nos movimentamos com tanta facilidade, é porque a aprendizagem terminou e porque dispomos de um maravilhoso instrumento, altamente aperfeiçoado, que realiza com fidelidade e rapidez o que lhe pedimos. O trabalho conjunto de milhões de fibras nervosas dispersas pelos órgãos dos sentidos e pelos músculos, assim como todas as que se agrupam no cérebro, no cerebelo e na medula, permitem-nos realizar os movimentos precisos e determinados que desejamos. Efectivamente, quando queremos pegar num objecto, a vontade de segurá-lo é suficiente para desencadear, automaticamente, toda a série de movimentos necessários.
As informações sensitivas que se dirigem ao cérebro e as ordens que este transmite aos músculos percorrem os filamentos nervosos que se encontram protegidos por um invólucro isolador, exactamente como os fios eléctricos. Este invólucro protector está impregnado de uma substância gordurosa que contém fósforo: a mielina. Ora, na esclerose múltipla, este invólucro de mielina é destruído em alguns lugares (por placas), e, nessas zonas, é substituído por um tecido cicatrizante que não contém mielina. A formação de um tecido cicatrizante que substitui o tecido nobre é a reacção normal do corpo para reparar os tecidos agredidos. Quando a natureza desse tecido não é idêntica à do tecido original, diz-se que há esclerose da região afectada.
A esclerose múltipla é, pois, uma doença que se caracteriza pela formação de placas esclerosadas em pontos diferentes do sistema nervoso central. Daqui resulta, inevitavelmente, uma diminuição funcional dos nervos atingidos, diminuição essa que pode progredir e chegar a uma deficiência total. Os danos manifestam-se de várias maneiras, dependendo da localização das placas de esclerose, mas o leque possível desses danos está determinado pelas próprias funções do sistema nervoso central:
– danos sensitivos: o doente já não recebe os sinais sensitivos, ou recebe-os com atraso. Tem dificuldade em localizar o ponto do seu corpo do qual provém a sensação táctil ou térmica. As sensações recebidas podem, também, ser anormais: formigueiros, ardores. Regra geral, as percepções são mal compreendidas: há dificuldade em distinguir a diferença de peso entre os objectos; na sua consistência, duro ou mole; na sua temperatura, quente ou frio. A acuidade visual também pode diminuir ou, até, desaparecer. A pessoa atingida pela esclerose múltipla não consegue aperceber-se normalmente do ambiente que a rodeia, não sendo capaz de o “sentir” adequadamente;
– danos motores: o doente sente grande dificuldade em adaptar os seus movimentos ao gesto que deseja realizar; são demasiado amplos ou demasiado curtos e imprecisos, mal coordenados.
O indivíduo não se situa bem no espaço, tem vertigens e perde o equilíbrio. A sua musculatura encontra-se em parte inoperante, ou está demasiado débil para realizar os movimentos. A paralisia é mais ou menos importante, e a sua extensão depende do estádio em que se encontra a doença. Permanecer de pé, caminhar, efectuar os mil e um gestos inerentes à vida quotidiana para se lavar, vestir, comer, trabalhar, etc, são actos que apresentam enormes dificuldades, uma vez que superam as capacidades motoras do doente.
Por outro lado, existem movimentos involuntários que são incontroláveis: tremores ou movimentos oscilatórios dos globos oculares, mau funcionamento dos esfíncteres. Quando o próprio cérebro é atingido pelas placas de esclerose, podem também existir manifestações de transtornos psíquicos.
Certamente que um indivíduo afectado pela esclerose múltipla não sofrerá todos estes transtornos ao mesmo tempo e nem sempre, necessariamente, de uma forma tão intensa. Como todas as doenças, a esclerose múltipla é um estado anormal que se instala progressivamente. Inicialmente, os danos são ligeiros e localizados, depois, aumentam e dispersam-se. A evolução é diferente de doente para doente. Existem duas formas principais:
– a forma rápida: Os transtornos manifestam-se e pioram rapidamente, sem qualquer período de latência;
– a forma lenta: actua por arrancos entrecortados por intervalos mais ou menos longos. Nestes intervalos, os danos nervosos que se instalaram no momento das crises podem desaparecer completamente. Com a progressão da doença, os transtornos já não desaparecem completamente, as crises repetem-se com maior frequência, as deficiências vão-se acumulando e as lesões agravam-se.
Geralmente, quando se adopta um tratamento correcto, quer dizer, um tratamento que se dirija às causas, os danos tendem a estabilizar-se. Com a continuação, em função do ataque ao sistema nervoso e dos esforços desenvolvidos para a correcção do terreno, os danos podem também diminuir de intensidade, tornar-se mais raros ou, mesmo, desaparecer.
Com efeito, a esclerose em placas depende igualmente do estado do terreno. Além disso, nesta doença é possível comprovar este aspecto de forma bastante clara. Quanto mais se deteriora o terreno, quanto mais o doente se cansa por excesso de trabalho, mais se sobrealimenta, fuma ou ingere álcool em excesso, as suas capacidades de funcionamento diminuem; em troca, sempre que há uma melhoria no estado do terreno, a mobilidade do paciente melhora também.
Seria errado pensar-se que a melhoria do terreno e do estado geral do paciente só poderão obter-se através de medicamentos, uma vez que as melhoras mais significativas; e duradouras se devem a coisas tão simples como a modificação do regime alimentar ou do funcionamento dos órgãos depuradores e excretores. Efectivamente, não é pela falta de medicamentos que o corpo adoece, mas sim devido às repercussões nefastas que evacuações insuficientes e uma alimentação inadequada exercem sobre o terreno.
A degradação do sistema nervoso é paralela à degradação do terreno. Esse paralelismo explica o aparente mistério da lenta ou rápida evolução da doença. Com efeito, a velocidade e o ritmo da degradação do terreno dependem do modo de vida que adoptamos, quer dizer, de acordo com o que comemos, bebemos, com a tensão a que nos sujeitamos e as preocupações a que estamos expostos, os medicamentos que tomamos, etc.
De que forma influi o estado do nosso terreno no estado do sistema nervoso? Dito por outras palavras, como se destrói e endurece o invólucro de mielina que protege os filamentos nervosos?
Os filamentos nervosos não estão isolados, resguardados de todo o contacto com os demais tecidos. Para que funcionem, são também irrigados pelo sangue e, por isso, estão em relação com todo o resto do organismo. Consoante a composição do sangue, os nervos nadam em líquidos puros e nutritivos ou, pelo contrário, impuros e carenciados. O invólucro de mielina e os filamentos nervosos possuem um funcionamento e uma capacidade mais ou menos grande de regeneração, de acordo com aquilo que lhes é levado pelo sangue.
As suas debilidades e falta de resistência são produtos da irritação e do envenenamento determinado por todos os resíduos e substâncias tóxicas conduzidas pelo sangue, quer se trate de resíduos do metabolismo ou de venenos exteriores, como os excitantes ou os medicamentos que actuam sobre o próprio sistema nervoso (soníferos, calmantes, anestésicos e outros). A agressão feita aos nervos pelos micróbios e o seu envenenamento pelas substâncias tóxicas que segregam também contribuem para debilitar o sistema nervoso em geral.
Os excitantes (café, chá, cacau e tabaco), cujo grau de nocividade tendemos a minimizar, exercem um efeito bastante nefasto sobre o sistema nervoso. Como já vimos anteriormente, contêm venenos ou substâncias tóxicas, solúveis tanto na água como nas gorduras.
O invólucro protector do nervo, a mielina, é uma substância gorda e não representa uma protecção contra estes venenos. O seu consumo regular provoca, por conseguinte, uma intoxicação e, com ela, uma fragilização do sistema nervoso.
Na degradação do sistema nervoso, é necessário ter em consideração as carências nutritivas que impedem que os nervos funcionem correctamente e que os invólucros se regenerem. Os nervos são especialmente sensíveis às carências em magnésio, cálcio, fósforo e vitaminas do complexo B. O invólucro de mielina depende, antes de mais, dos ácidos gordos não saturados (vitamina F), da lecitina e do fósforo.
Com a degradação do terreno, mediante a acumulação de sobrecargas e carências, a resistência de todos os órgãos, inclusive dos nervos, diminui consideravelmente. Assim, o sistema nervoso torna-se muito mais sensível às diversas agressões. Na esclerose múltipla, uma vez que ela surge, é porque existiu uma agressão. Esta agressão é fruto de micróbios ou de substâncias tóxicas. Dada a presença progressiva, ao longo dos anos, de placas esclerosadas sobre os filamentos nervosos, não é possível atribuir essa presença a uma infecção ou a um envenenamento acidental único. Verifica-se sempre que a causa da presença da esclerose é contínua e automantida.
A repetição dos nossos erros de higiene de vida, sobretudo erros alimentares, provoca um estado contínuo de auto-intoxicação que actua negativamente de duas formas:
A massa de alimentos desnaturados, deficientes e demasiado ricos que consumimos entra facilmente em fermentação e putrefacção no intestino. Os numerosos venenos que se formam deste modo esgotam as capacidades de neutralização e de eliminação do fígado, que permite, então, que esses resíduos circulem livremente pelo corpo e agridam os tecidos e, portanto, os nervos.
As fermentações e putrefacções contínuas ou periódicas que se produzem no intestino modificam as condições de vida da flora intestinal. Os microrganismos que a compõem transformam-se e tornam-se virulentos. Abandonam o meio intestinal e distribuem-se por todo o corpo. Depois, geralmente, implantam-se, proliferam e originam lesões inflamatórias em lugares especialmente debilitados do organismo; no caso de um doente acometido de esclerose múltipla, alojam-se no sistema nervoso.
Para salvar o seu sistema nervoso, o paciente deve alcançar dois objectivos. Por um lado, aumentar a sua resistência, mantendo o seu sangue puro e nutritivo. Por outro, suprimir as possibilidades de agressão por parte dos venenos intestinais e pelas infecções microbianas com ponto de partida intestinal. Uma única terapia permite realizar esses dois objectivos: a correcção do terreno.
Salvaremos o sistema nervoso mantendo o sangue puro e nutritivo e suprimindo as possibilidades de agressão de origem intestinal.
De: Christopher Vasey
Do livro Compreender as doenças Graves Editorial Estampa Lda.
Uma vez que o cancro se caracteriza por um tumor nos tecidos do doente, pareceria legítimo abordar esta doença com o estudo de uma descrição dos tumores cancerosos, mas isso significaria concentrarmo-nos numa manifestação local, enquanto a doença propriamente dita reside no terreno. Seria o mesmo que fixarmo-nos nos sintomas, nos efeitos e esquecermos a verdadeira causa primeira. A possibilidade de compreensão da doença e do iniciar dos tratamentos ver-se-ia diminuída com uma tal atitude.
O estado do terreno será o motivo pelo qual surge o tumor? Não será um pouco anacrónico recorrermos a um velho conceito de há mais de 2000 anos, para uma doença sobre a qual se debruçam milhares de investigadores equipados com os meios mais sofisticados? Longe de invalidar este conceito, todas as modernas descobertas científicas vêm, pelo contrário, confirmar este facto: o estado do terreno é determinante para o desenvolvimento de um tumor canceroso.
O terreno canceroso
O que pode transformar um terreno são num terreno canceroso? As investigações laboratoriais levaram à identificação de numerosas substâncias que podem induzir à transformação de uma célula sã numa célula cancerosa. A absorção, por parte do organismo, de tais substâncias designadas por cancerígenas e a sua presença nos tecidos, contribuem para a constituição de um terreno canceroso. Trata-se, principalmente, de:
– nitrosaminas: nitratos que, por redução, formam nitritos;
– o benzeno-3-4-pireno que se encontra no peixe e nas carnes fumadas ou nos alimentos assados em fogo de lenha;
– as micotoxinas ou toxinas segregadas pelos molhos de amendoim (aflatoxina), do arroz (liteoskirina)…;
– substâncias fabricadas por algumas plantas, como os alcalóides de Senecio;
– alguns corantes alimentares: o amaranto (e 23), a anilina, etc.;
– alguns insecticidas, fungicidas e herbicidas; ou porque os alimentos contenham os pesticidas em questão, ou porque contenham os seus metabolitos;
– o álcool: directamente por irritação das mucosas ou indirectamente, pelas substâncias cancerígenas que derivam de algumas formas de preparação;
– os edulcorantes (ciclamato, sacarina);
– o tabaco;
– o talco que serve para dar brilho ao arroz, etc.
A estas substâncias de origem alimentar, cuja lista é extensa, há que juntar todas as substâncias químicas cancerígenas, conhecidas ou não, contidas nas embalagens que envolvem os alimentos, em alguns medicamentos, nos resíduos industriais, etc.
Não é necessário continuar esta enumeração para sublinhar que tudo isto nos leva à questão fundamental. De que outro modo poderemos classificar um meio orgânico que contém algumas destas substâncias, senão como um terreno sobrecarregado de resíduos?
Quando se apresenta uma lista de substâncias cancerígenas, facilmente podemos ficar com a impressão de que estas são a única causa do cancro. É certo que o perigo que representam é uma realidade, mas, tal como os micróbios, a sua nocividade depende do estado do terreno.
Seria, inclusivamente, tentador parafrasear a célebre máxima de Pasteur: “Cancerígeno não significa nada; toda a importância está no terreno.”
Com efeito, uma substância cancerígena pode ser destruída, graças à função antitóxica do fígado; naturalmente que isto ocorre apenas quando a função hepática se efectua com normalidade, coisa que depende da forma de vida do indivíduo e, portanto, em última instância, do estado do seu terreno.
Muitas substâncias cancerígenas só se tornam activas se entrarem em contacto com outras substâncias não cancerígenas, designadas por promotoras do cancro. Felizmente, já temos algumas dessas substâncias descobertas. Entre elas encontram-se, por exemplo, aditivos que se consideravam totalmente inócuos. Logicamente, quanto mais sobrecarregado estiver o terreno, mais provável será que contenha substâncias promotoras do cancro. Ao fim e ao cabo, não quererá isto dizer que a acção das substâncias cancerígenas depende do estado do terreno?
Além disso, dentre as pessoas que se encontram em contacto com as mesmas substâncias cancerígenas, por exemplo, os operários de uma fábrica, nem todas desenvolvem, necessariamente, um cancro. Cada operário, em função da sua alimentação, dos problemas profissionais ou familiares que tem que enfrentar, mas também pela sua hereditariedade, pelo seu temperamento, pelas suas debilidades orgânicas, possuirá um terreno especial, diferente do dos seus colegas, que lhe permitirá ou não o desenvolvimento de um cancro.
Convém observar, ainda, outros factos significativos. Provou-se que o surgimento e desenvolvimento de um tumor canceroso seria claramente favorecido quando a pessoa estivesse sobrealimentada, principalmente se o excesso alimentar tivesse base em açúcar refinado, carne e gorduras; ou se a pessoa fosse obesa, obstipada e sedentária. Entre outros factores que favorecem o desenvolvimento do tumor encontram-se as carências de oxigénio, magnésio, ferro, zinco, vitamina A, C, etc., factores que nos remetem, desta vez, para a noção de terreno com carências.
A possibilidade de desenvolvimento de um tumor maligno depende de todo um conjunto de factores, cujos efeitos se inscrevem no terreno. Não estamos, pois, à mercê da primeira substância cancerígena que apareça. Se o terreno for são e resistente, ela será neutralizada, destruída e eliminada. Em troca, se o terreno estiver desequilibrado, possuirá uma acção cancerígena, e esta ver-se-á favorecida e, até, reforçada pelas deficiências do terreno.
Sem dúvida, é o momento ideal para que, individualmente, cada qual evite consumir produtos cancerígenos e que, a nível social, se tomem medidas para afastar de nós estas substâncias. No entanto, é conveniente mantermos este aspecto da questão sob uma perspectiva mais alargada, pois, deixando-nos hipnotizar demasiado por estas substâncias, como acontece no caso dos micróbios, acabamos por nos esquecer do terreno.
Para nos resguardarmos do cancro, não basta eliminar as substâncias cancerígenas conhecidas. Efectivamente, uma célula normal pode transformar-se numa célula cancerosa quando o terreno se degrada devido às sobrecargas e às carências. Mas, até mesmo quando se atinge esse ponto, o destino de uma célula cancerosa depende totalmente do terreno. De uma célula cancerosa não resulta, sistematicamente, um tumor maligno.
Um “ser” vivo, quer se trate de um micróbio ou de uma célula (cancerosa ou não), só poderá viver num organismo se este o aceitar e lhe oferecer as condições de vida que lhe são necessárias para o seu desenvolvimento. Se isto acontecer, os micróbios multiplicam-se e chegamos a uma infecção; se se tratar de uma célula cancerosa, chegaremos a um tumor. Mas, quando o terreno não oferece as condições de vida necessárias, o micróbio permanece inofensivo e é destruído. A célula cancerosa é, também, destruída neste meio que lhe é hostil.
Comprova-se, pois, a importância do terreno para as possibilidades de acção cancerígena de uma substância e da evolução de uma célula cancerosa para um tumor maligno. Convém considerar que, à partida, o estado do nosso terreno depende da influência hereditária, mas também de uma forma essencial de higiene de vida física e psíquica que escolhemos para nós.
Da célula cancerosa ao tumor maligno
No nosso terreno, cada órgão desempenha uma função precisa em colaboração com os outros. A sua independência e os equilíbrios subtis que se desenvolvem entre eles fazem com que nada possa ser acrescentado ou retirado da “máquina orgânica” para que esta funcione melhor. A localização e o volume de cada órgão estão equilibradamente relacionados entre si, com um funcionamento individual compassado, para que possam trabalhar harmoniosamente como um todo.
Todos estes equilíbrios, toda esta organização pressupõem uma orientação inteligente que regula e controla a vida orgânica. Esta orientação é extraordinária, uma vez que o corpo conta com cinco biliões de células que é necessário orientar e controlar para que as suas localizações se mantenham e para que cumpram a sua função de acordo com o resto do organismo.
Se uma parte do todo, um grupo celular, por exemplo, não estiver no lugar que lhe está destinado, a harmonia orgânica será quebrada e a sobrevivência do conjunto será colocada em perigo. Não realizando a sua tarefa no local próprio, perturba o trabalho que os outros tentam realizar, para além de se tornar uma presença incómoda.
A sabedoria que preside à organização do corpo não permite normalmente que tais anomalias se produzam e permaneçam. Através do processo de selecção natural, as células rebeldes encontram-se em condições de vida que lhes são menos favoráveis do que às que se encontram nos seus lugares correctos. Portanto, torna-se-lhes mais difícil a sobrevivência e o enraizamento nesse ambiente que não lhes está destinado. Além disso, o sistema de defesa do organismo, o sistema imunológico, localiza essas células perturbadoras, destruindo-as e eliminando-as.
Como vimos, o sistema imunológico de um organismo é muito menos eficaz quando o terreno se encontra degradado pelas sobrecargas e carências. Portanto, apesar do maravilhoso controlo e organização de que goza o corpo e devido a uma falta de respeito pelas normas fisiológicas que se desprendem desta organização, é possível que uma célula cancerosa possa não só sobreviver numa parte do corpo onde não deveria estar, como também estabelecer uma colónia com outras semelhantes a si. Essa colonia de células estranhas designa-se por tumor.
O desenvolvimento do tumor
A célula cancerosa diferencia-se da célula normal pelo seu processo de multiplicação. Uma célula sã, ao dividir-se, dá lugar a duas células filhas e deixa de existir como tal. Uma das duas células não é fecunda, e a sua função será a de participar nos trabalhos do órgão a que pertence (célula obreira funcional). A segunda célula é fecunda (célula geradora). O seu papel será o de originar duas novas células filhas, das quais uma será, novamente, fecunda e a outra não. O facto de a célula geradora dar sempre lugar, ao mesmo tempo, a uma célula geradora e a uma célula obreira, permite que o conjunto dos órgãos permaneça estável. Com efeito, a ausência de descendentes da célula obreira é compensada pela outra célula proveniente da célula geradora.
A particularidade de uma célula cancerosa é a de dar lugar a duas células geradoras, que, por sua vez, originam, também, duas outras células geradoras e assim sucessivamente. Portanto, o número de células do tecido canceroso não permanece estável; cresce rapidamente.
Em média, uma célula cancerosa divide-se quatro vezes por ano e, recordêmo-lo, nascem duas células geradoras de cada vez. Deste modo, o número de células duplica-se a cada divisão celular. As duas células filhas que resultam da primeira divisão dão lugar, cada uma, a outras duas células filhas. Então, estão presentes quatro células. Ao dividirem-se, as duas células iniciadoras deixam de existir como tal e já não entram na contagem. Na divisão seguinte, a terceira, cada uma das quatro células origina duas, o que perfaz um total de oito, etc. (ver tabela 1). Ao cabo de um ano, na quarta divisão, estaremos na presença de dezasseis células. Dezasseis células, num organismo que conta com cinco biliões, representa pouca coisa. Mas o ritmo de crescimento processa-se numa progressão geométrica, duplicando-se a cada vez (2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256…), e, assim sendo, o número de células cancerosas do tumor cresce a uma velocidade vertiginosa.
A tabela 2 mostra a progressão do número de células de ano a ano, por cada divisão.
As diversas fases importantes pelas quais passa o desenvolvimento do tumor são as seguintes:
O estádio das mil células
No decurso do seu terceiro ano de idade, o tumor alcança o estádio das mil células. Este agrupamento celular não constitui ainda o verdadeiro perigo, pois não evoluirá, necessariamente, para um tumor canceroso firmemente estabelecido. De facto, é até muito instável e encontra-se mal apoiado nos tecidos. Ainda pode ser destruído e eliminado com facilidade, em virtude da lei de selecção natural, segundo a qual as células anormais se tornam inviáveis num meio em que predominam as células sãs.
Por conseguinte, ainda não podemos falar de cancro propriamente dito, mas apenas de um tumor reversível, susceptível de desaparecer espontaneamente, se as condições lhe forem desfavoráveis. Inclusivamente, parece que a existência de tais tumores no organismo é normal, mas que fracassam e não produzem efeitos desagradáveis desde que o terreno esteja são e o sistema imunológico funcione.
O estádio de um milhão de células
Se o terreno permitir, o tumor continuará a crescer até alcançar, no quinto ano, o milhão de células e o peso de 1 mg. Mede apenas 1 mm, mas, na escala celular, estas dimensões são enormes e suficientes para evitar que as células situadas no centro do tumor entrem em contacto com as células sãs circundantes. Deste modo, a selecção natural não pode actuar sobre elas, pois a ausência de contacto evita o confronto com as células sãs. Se todas as condições se mantiverem inalteráveis, o tumor será capaz de crescer sem encontrar qualquer oposição relevante.
Com a permanente duplicação do número de células a cada divisão, na divisão seguinte existirão 2 milhões de células, depois 4, 8, etc.
Apesar destes números, as dimensões do tumor são demasiado pequenas para que ele possa ser descoberto através das técnicas actuais. A detecção só será possível três anos depois, quando o seu volume for mil vezes maior.
O estádio de mil milhões de células
No seu oitavo ano, o tumor mede aproximadamente 1 cm e pesa 1 grama. Evoluiu, pois, ao longo de oito anos, no silêncio das profundezas. Conseguiu crescer e instalar-se solidamente nos tecidos. Só agora poderá ser descoberto, caso se efectuem exames. No entanto, descobrir um tumor não significa tratá-lo e eliminá-lo.
Para complicar as coisas, quando se pode descobri-lo e iniciar um tratamento curativo, ele dá início a uma nova fase da sua vida: a fase da propagação.
Efectivamente, as células isoladas ou em placas (metástases) desprendem-se do tumor-mãe e, levadas pela corrente sanguínea ou linfática, vão colonizar outras partes do corpo. Assim, no momento em que se consegue descobrir o tumor-mãe e se poderia passar à acção, esta perde, em grande parte, o seu poder, uma vez que no interior dos tecidos se começam a produzir tumores-filhos que, por sua vez, são igualmente indestrutíveis.
Parece que a natureza nos dá uma lição, querendo corrigir a nossa obstinada preocupação com os efeitos, sem nos lembrarmos das causas que originam as doenças. Faz com que nos apercebamos de que é mais sábio prevenir do que curar.
O estádio de 1 bilião de células
Quando o tumor, tumores-filhos (metástases) incluídos, alcança o bilião de células, pesa 1 kg e tem um volume de 10 cm. Geralmente, o portador de um tal tumor morre, pois o corpo humano não tolera uma massa tumoral superior a 1 kg.
Esta descrição do desenvolvimento de um tumor deve ser considerada um retrato-tipo, uma das numerosas possibilidades de percurso de um tumor.
Tabela 2
A multiplicação do número de células num tumor
Na verdade, todo o processo se pode desenvolver mais lentamente, com períodos de trégua: o tumor não progride ou, inclusivamente, retrocede, nuns casos mais do que em outros e, às vezes… até desaparece completamente. Neste caso, as células cancerosas encontram condições de vida adversas, porque o terreno se encontra depurado, as carências foram satisfeitas e o estado psíquico do doente melhorou.
Por outro lado, o desenvolvimento do tumor pode acelerar-se quando o estado psicológico do paciente sofre uma quebra, como por exemplo após um choque afectivo, ou quando o organismo fica mais carenciado, aumentando assim o nível de intoxicação. Comprovou-se experimentalmente que basta aumentar a dose de glúcidos, sobretudo de açúcar refinado, para fazer aparecer um cancro.
O desenvolvimento de um tumor não se efectua, pois, segundo uma lógica interna cega e independente do meio em que se encontra. As células cancerosas, do mesmo modo que as outras, nadam nos líquidos nutritivos do corpo e deles dependem totalmente. Pela sua anormalidade, debilidade e deficiência, são muito mais dependentes desses líquidos, levando a que as suas necessidades sejam, geralmente, maiores do que as de uma célula sã. Além disso, um tumor canceroso organiza-se extremamente mal. Todo o seu sistema – aportes nutritivos, eliminação das toxinas, circulação, oxigenação… – é deficiente, ao ponto de uma parte importante das células morrer de inanição e a outra só poder sobreviver através da hibernação. O perigo que representam não se deve ao seu próprio vigor, mas sim ao estado debilitado em que se encontra o resto do organismo.
Não esqueçamos que aos oito anos de desenvolvimento silencioso de um tumor corresponde uma degradação paralela e não menos importante do terreno, adicionada ainda ao seu estado de imperfeição inicial, o qual permitiu o surgimento do tumor.
Qualquer melhoramento do terreno representa um atentado às possibilidades de sobrevivência do tumor. Quanto mais toxinas se expulsarem e melhor se satisfizerem as carências, mais possibilidades damos às células sãs de readquirirem a sua vitalidade e mais adversas se tornam as condições para as células cancerosas.
Este ponto foi também confirmado, tanto através de estudos realizados em laboratórios sobre culturas de células cancerosas, como pela experiência vivida por milhares de cancerosos que experimentaram modificar em profundidade a qualidade do seu terreno.
O desenvolvimento de um tumor não se processa unicamente sob a forma de crescimento. Trata-se de um processo dinâmico, vivo, que pode encaminhar-se tanto para o aumento, como para a diminuição. Tudo depende da acção que o indivíduo esteja disposto a realizar sobre o terreno orgânico e… dos danos causados pelo tumor.
Efectivamente, um tumor canceroso pode originar defeitos de todo o tipo. Quanto mais numerosas forem as células cancerosas, mais absorvem as substâncias nutritivas das células sãs; além disso, as suas necessidades nutritivas são maiores do que as das células normais.
O tumor comporta-se como uma planta parasita que esgota a árvore sobre a qual se desenvolve.
As células anormais expulsam também uma grande quantidade de toxinas que envenenam todo o organismo e contribuem para um maior aumento da degradação do terreno. Este fenómeno origina, naturalmente, uma multidão de pequenos transtornos, aparentemente sem qualquer relação directa com o tumor, a não ser o facto de resultarem do aumento da percentagem da sobrecarga.
A estes transtornos devidos à actividade do tumor juntam-se ainda as perturbações provocadas pela sua localização. Quanto mais aumenta o volume do tumor, maior a área ocupada do espaço normalmente destinado aos tecidos sãos, chegando a comprimir os órgãos, diminuindo-lhes as capacidades funcionais, ou a obstruir canais como, por exemplo, os intestinos ou as vias respiratórias, impedindo que as evacuações ou as trocas se produzam correctamente.
Ao contrário dos tumores benignos (quistos, verrugas, etc.), que se mantêm bem encapsulados, o tumor canceroso invade o organismo. Segrega enzimas que digerem os tecidos vizinhos, acabando por destruí-los. Deste modo, abre-se caminho para a criação de um espaço propício ao seu aumento de volume.
Um tumor pode infiltrar-se e desenvolver-se num órgão até um tal limite que as paredes deste acabam por ser comprimidas pelas células cancerosas, quer dizer, células de qualidade inferior. Daí resultam rupturas inevitáveis, perfurações e hemorragias.
O carácter invasivo do tumor canceroso não se manifesta apenas localmente, já que, como vimos anteriormente, as células cancerosas poderão desprender-se do tumor-mãe e, pela via linfática ou sanguínea, criar e desenvolver tumores-filhos em lugares bem afastados do seu ponto de origem.
Face aos problemas ocasionados pelo desenvolvimento do tumor, a tentação de querer destruí-lo o mais rapidamente possível é, logicamente, grande.
Todavia, o caminho da luta contra os sintomas está repleto de obstáculos. As técnicas da extirpação cirúrgica do tumor e da destruição das células cancerosas através da radioterapia ou da quimioterapia não são realmente eficazes, principalmente se forem utilizadas demasiado cedo, isto é, se o tumor não estiver ainda desenvolvido e se não existirem metástases isoladas.
Certamente que o organismo se sentirá aliviado de um peso se o tumor for extraído. Contudo, não está ainda resolvido o problema de fundo, a correcção do terreno capaz, por si só, de travar o desenvolvimento do tumor e as possibilidades de desenvolvimento das metástases. Assim como também não está resolvida a situação de todos os transtornos adicionais derivados da degradação do terreno.
Seja qual for a doença (neste caso, o cancro), cada doente canceroso é um caso único, com as suas características próprias. Assim, há sempre que considerar toda a situação orgânica e psíquica do paciente, para se poder decidir sobre a terapia a empregar. Já Hipócrates escrevia que “… não poderão existir regras matemáticas e invariáveis no tratamento dos doentes. Efectivamente, a medicina deve fazer de uma forma num dado momento, para, no momento seguinte, fazer precisamente o contrário”.
De qualquer maneira, a lógica pretende que o tratamento dos sintomas esteja sempre associado a um tratamento de fundo sobre o terreno, como preparação para as intervenções alopáticas (cirurgia, radioterapia, etc.), mas também após estas, para poder agir sobre as causas.
A correcção do terreno, diminuindo a gravidade dos transtornos locais e melhorando o estado geral, permitirá, por um lado, que o doente reaja melhor ao tratamento e, por outro, que o terapeuta utilize doses menos fortes. A recuperação do doente será mais fácil após as intervenções alopáticas, e evitar-se-ão muitas complicações como hemorragias, alergias e outras.
Iremos sempre a tempo, ainda que só se inicie o tratamento do terreno após as intervenções alopáticas, e jamais deveremos pensar que será uma atitude supérflua, ou que já é tarde para fazê-lo. É até um óptimo momento para atacar, finalmente, as causas. Ao eleger-se a terapia, contrariamente ao que poderia supor-se, a questão não reside em pensarmos se faz ou não falta um tratamento de fundo após o tratamento dos sintomas, mas, antes, se será necessário associar um tratamento dos sintomas ao tratamento de fundo.
Quaisquer melhoras verificadas no terreno representam um atentado contra as possibilidades de sobrevivência do tumor.
De: Christopher Vasey
Do livro Compreender as doenças Graves Editorial Estampa Lda.
São tão numerosos os benefícios da actividade física que, por si sós, compensariam e suprimiriam, em parte, os efeitos nefastos dos factores de risco.
O dispêndio de energias permite queimar os excedentes da sobrealimentação, activar as funções orgânicas e favorecer a eliminação das toxinas. Mediante a aceleração dos intercâmbios celulares e da circulação sanguínea, os resíduos incrustados nas profundidades dos tecidos são conduzidos aos órgãos excretores, para serem eliminados. O aprofundamento da respiração aumenta consideravelmente o aporte de oxigénio, originando, como consequência, a depuração do terreno.
A modificação profunda do terreno orgânico só é possível através do exercício físico. Como um vento fresco que reaviva as brasas que se encontram sob a cinza, o exercício físico reanima todos os metabolismos, limpando o organismo como se fosse uma corrente de água, transportando o limo acumulado no leito do rio.
Quando se diz “fazer exercício físico”, não devemos pensar apenas nos momentos privilegiados e limitados no tempo durante os quais nos deslocamos aos organismos especializados para uma sessão de ginástica, ou a lugares de desporto, onde praticamos a corrida, o ténis ou o ciclismo.
No decorrer da nossa vida diária, poderemos ser fisicamente muito activos se, em vez de nos deslocarmos de automóvel até ao local de trabalho, fizermos esse trajecto, ou uma parte dele, a pé; se, em vez de tomarmos o elevador, subirmos pela escada; se, em vez de carregarmos o automóvel, formos nós a transportar os nossos sacos de compras; se, em vez de utilizarmos uma batedeira, batermos ou triturarmos manualmente os alimentos.
A falta de tempo, que frequentemente invocamos, não é mais do que uma falsa desculpa, pois o tempo economizado é utilizado pela maioria das pessoas em actividades sedentárias, como, por exemplo, permanecerem sentadas durante horas em frente da televisão, embora por vezes, é certo, também efectuem grandes deslocações… até aos estádios desportivos.
O terreno orgânico só pode modificarse profundamente através do exercício físico.
De: Christopher Vasey
Do livro Compreender as doenças Graves Editorial Estampa Lda.
“…a sobrealimentação reina em todas as camadas da população.”
Concretamente, o homem sobrealimenta-se de duas maneiras diferentes que podem acontecer em simultâneo: ou porque come demasiado amiudadamente, ou porque come demais de cada vez que se alimenta. Para além das refeições principais, algumas pessoas consomem, nos períodos de descanso por volta das 10 e das 16 horas, alimentos que são considerados “extras”, mas que, com frequência, são tão ricos quanto as grandes refeições. Estas pessoas, em vez de fazerem três refeições por dia, acabam por fazer sete ou oito. As bolachinhas, os pastéis, as sanduíches, os chocolates ou outras guloseimas representam uma parte importante da carga alimentar diária.
Na segunda forma de sobrealimentação, não é necessariamente o volume dos alimentos que interessa, mas a sua concentração em substâncias nutritivas. São demasiado ricos, demasiado calóricos.
As refeições, em vez de se consumirem cerca de 70% de alimentos “ligeiros” (saladas, alimentos crus, legumes cozidos, fruta) e cerca de 30% de alimentos “concentrados” (carne, queijo, ovos, cereais, matérias gordas), as proporções invertem-se. O essencial da refeição é composto pela carne, os molhos gordos e outros, enquanto a quantidade de legumes e fruta é extremamente discreta. Em certas ocasiões, temos até a sensação de que estes desempenham um papel meramente decorativo. Na Suíça, por exemplo, a sobrealimentação reina em todas as camadas da população. Embora as necessidades reais de um adulto se situem à volta de 2400 calorias por dia, cada suíço consome, diariamente, cerca de 3400 calorias.
A sobrealimentação esgota o organismo e sobrecarrega-o de resíduos.
A sobrealimentação específica
Na sobrealimentação global, o indivíduo come de tudo em quantidades demasiadas. Na sobrealimentação específica, consome-se um só tipo de alimento em doses superiores àquelas que o corpo pode digerir e utilizar correctamente.
Aqui, voltamos a encontrar todos os inconvenientes enumerados a respeito da sobrealimentação global, juntando-se, ainda, os inconvenientes próprios dos alimentos consumidos em excesso. Actualmente, são três os alimentos principalmente incriminados: o açúcar, a carne e as gorduras.
A sobrealimentação provocada pelo açúcar
A digestão dos alimentos ricos em glúcidos, como a fruta, os cereais, o pão, as batatas, o açúcar refinado, as guloseimas, a marmelada, etc, fornecem a glucose, que é um carburante com o qual o organismo funciona.
Para se transformar em energia, a glucose passa por duas fases metabólicas: uma fase anaeróbia (em ausência do oxigénio) e uma fase aeróbia (em presença do oxigénio). Na fase anaeróbia, sob a acção de diferentes enzimas, a glucose transforma-se sucessivamente em ácido cítrico, alfacetoglutárico, pirúvico, succínico, fumárico, málico, oxaloacético e, finalmente, em ácido láctico. Estes diferentes ácidos designam-se por metabolitos intermediários tóxicos (MIT).
Na fase seguinte, aeróbia, os MIT são oxidados, libertando, desse modo, a energia necessária ao corpo. Os restos desta última transformação são a água e o gás carbónico, ambos fáceis de eliminar.
Mas, quando existe uma sobrealimentação em glúcidos, o corpo recebe mais glucose do que a que pode transformar. Em vez de conduzir à produção de energia, a degradação da glucose interrompe-se num dos estádios da fase anaeróbica. Mesmo que se trate do estádio de ácido pirúvico ou málico, os metabolitos intermediários são resíduos e, para mais, resíduos tóxicos, com os quais o organismo se vai envenenar.
A presença destes MIT deteriora o terreno de múltiplas maneiras. O sangue e a linfa perdem a sua fluidez, diminuindo assim a velocidade da circulação e das trocas, provocando o congestionamento dos órgãos.
As mucosas dos órgãos e as paredes das células são agredidas e feridas, o que as torna mais vulneráveis. Certo número de reacções bioquímicas não poderão ocorrer, devido à modificação do pH do meio interno. Perde-se cada vez mais o equilíbrio ácido do terreno, e o corpo esgota-se na cedência das suas bases minerais de reserva, para neutralizar o excedente de acidez.
Quanto mais importante for a quantidade de glúcidos consumidos, ou maiores forem as carências do corpo em vitaminas e oligoelementos necessários para a activação das enzimas implicadas na degradação da glucose, maior risco corre de ser interrompida a transformação da glucose no estádio anaeróbico, produtor de MIT.
Portanto, a glicose dos alimentos ricos em vitaminas e oligoelementos, como a fruta e os cereais integrais, metaboliza-se muito melhor do que a que procede de alimentos pobres nessas substâncias, ou seja, os alimentos refinados. Os açúcares refinados, quer sejam brancos ou amarelos, os cereais refinados (arroz branco, massas brancas, farinha branca) são grandes produtores de MIT. O consumo de alimentos confeccionados a partir de farinha branca, ou que contêm açúcar branco, aumenta inquietantemente. O consumo de pão branco generalizou-se, e o consumo anual de açúcar refinado, por habitante, aumentou de 5 kg, no início do século, para mais de 40 kg, em 1984 (na Suíça).
Por conseguinte, um consumo excessivo de glúcidos é nefasto, sobretudo quando se trata de alimentos que contêm açúcar refinado: bombons, chocolate, pastelaria, sanduíches, marmeladas, limonadas industriais (contêm 100 g de açúcar por litro), iogurtes (16 g de açúcar por cada 100 g)… tudo isto, sem esquecer, ainda, o açúcar com que se tempera o café, o chá ou as tisanas.
A sobrealimentação de proteínas
Os alimentos ricos em proteínas, como a carne, o peixe, o queijo, os ovos, os cereais e os legumes, proporcionam ao organismo os ácidos aminados indispensáveis ao crescimento e à substituição das células deterioradas. Contudo, as necessidades diárias de proteínas são estritamente determinadas e pouco elevadas. Todas as proteínas que se ingerem em excesso devem ser decompostas e eliminadas, porque a capacidade que o organismo possui de acumular aminoácidos é nula. A decomposição das proteínas origina três tipos de resíduos muito tóxicos: o ácido úrico, o amoníaco e os ácidos cetónicos. O corpo é capaz de decompor o amoníaco e os ácidos cetónicos, transformando-os em substâncias menos tóxicas, como a ureia, por exemplo, que elimina através dos rins e das glândulas sudoríparas; mas, em troca, é incapaz de neutralizar o ácido úrico.
Quando os alimentos proteicos se consomem em quantidades exageradas, a capacidade de neutralização e expulsão do corpo é rapidamente superada. Dela deriva uma intoxicação amoniacal e um acúmulo de ácido úrico nos tecidos.
A superalimentação em proteínas é mais grave que qualquer outra, pois os resíduos proteicos que estes alimentos descarregam no organismo são os mais tóxicos.
Quando as proteínas são fornecidas por produtos de origem animal, os resíduos não provêm apenas da utilização desses produtos. Efectivamente, os tecidos animais contêm todos os resíduos do metabolismo do próprio animal, quer dizer, o seu ácido úrico, o seu amoníaco, etc.
No princípio do século, o consumo anual de carne por habitante, na Suíça, era de 40 kg aproximadamente. Segundo estudos que remontam a 1982, já atingiu os 88,6 kg, ou seja, um consumo diário de, pelo menos, 240 gramas de carne. E a isto devem ainda juntar-se todas as proteínas consumidas com alimentos como os produtos lácteos, os ovos, os legumes e os cereais.
Nos nossos dias, há tendência para se considerar que uma refeição sem carne não é uma refeição. Além do mais, muitas pessoas não se apercebem de que o chouriço ou as salsichas do jantar representam, também, uma ingestão de carne, tal como as sanduíches de presunto ou o patê ingeridos como merenda. Um consumo excessivo de proteínas também pode ser produzido pelo consumo abusivo de queijos, de ovos ou de legumes.
A sobrealimentação de gorduras
As gorduras desempenham um papel construtivo e energético no nosso organismo. Encontram-se nas oleaginosas, nos ovos (11,5% de gorduras), na carne (até 30%), nas natas (30%), na manteiga (81%).
As investigações modernas puseram em evidência dois tipos de matérias gordas: os ácidos gordos saturados e os ácidos gordos não saturados. Os ácidos gordos não saturados são substâncias vitais para o organismo, que pode metabolizá-los facilmente, contrariamente ao que se passa com os ácidos gordos saturados, que são de difícil assimilação.
São estes, principalmente, que se acumulam nas reservas de gordura (obesidade, celulite…) e os que cobrem as paredes dos vasos sanguíneos (doenças cardiovasculares). Uma vez instalados nos tecidos, são difíceis de mobilizar, decompor e eliminar.
Todos os alimentos que contêm substâncias gordas são compostos tanto por ácidos gordos saturados como por ácidos gordos não saturados, mas a sua proporção varia de alimento para alimento.
Os alimentos mais ricos em ácidos gordos saturados são de origem animal (com excepção dos derivados da palmeira e do coco).
Os ácidos gordos não saturados, regra geral de origem vegetal, exercem uma acção benéfica para o corpo humano (vitamina F), na sua forma natural.
Quando se submetem a temperaturas demasiado altas, desnaturam-se. Este é o caso dos azeites vegetais refinados ou dos azeites de primeira pressão a frio, utilizados para cozinhar. Tenhamos em conta, também, que os glúcidos em excesso são armazenados no corpo sob a forma de ácidos gordos saturados.
A sobrealimentação de corpos gordos frequentemente caminha a par com a carne, uma vez que, por um lado, as próprias carnes são ricas em gorduras (boi 20%, vitela 11%, presunto 30%, salame 35-49,7%) e, por outro lado, geralmente são preparadas com corpos gordos e servidas com molhos ricos em gorduras.
Os abusos de gorduras podem provir também de um consumo excessivo de produtos lácteos, sobretudo a manteiga: no pão, nos legumes, nos molhos, cozinhados feitos com manteiga, etc.
A nocividade dos corpos gordos aumenta ainda mais, quando se aquecem em demasia. Com efeito, a carbonização dos azeites e das gorduras no momento da cocção (frituras, grelhados…) origina substâncias especialmente tóxicas e cancerígenas.
O corpo não pode digerir e utilizar correctamente as substâncias em excesso.
De: Christopher Vasey
Do livro Compreender as doenças Graves Editorial Estampa Lda.
A função do coração é fazer circular o sangue, de modo a que todos os órgãos disponham dos nutrientes e do oxigénio de que necessitam. Mas o próprio coração, como músculo, tem igualmente necessidade de oxigénio, de glicose e de nutrientes para poder realizar o seu trabalho.
Os vasos encarregados de o irrigarem são as artérias coronárias. Estas são as mais importantes do corpo, uma vez que abastecem o próprio coração, órgão do qual dependem todos os outros. Se as artérias coronárias, que se dividem em vários ramos com o propósito de irrigarem a totalidade do tecido cardíaco, ficam obstruídas e impedem que o oxigénio chegue ao coração, esta deixa de bater e, neste caso, ocorre a morte.
A obstrução dos vasos (embolia) produz-se quando nas próprias veias se forma um coágulo, ou se este, deslocando-se na corrente sanguínea, for estabelecer-se numa outra veia. Um coágulo pode circular longamente pelo corpo, pois a corrente sanguínea promoverá a sua deslocação enquanto o diâmetro das veias for superior à sua dimensão. Quando encontrar um vaso de diâmetro inferior, não poderá continuar a sua deslocação e, neste caso, dependendo do tipo de bloqueio que produza, impedindo parcial ou totalmente a circulação do sangue, assim será a gravidade dos transtornos que produzirá.
Quando uma ramificação lateral das artérias coronárias se encontra obstruída por um coágulo, o coração poderá ainda funcionar relativamente bem, pois continua a ser irrigado pelos troncos grossos das artérias coronárias. Todavia, dada a diminuição da sua capacidade, apresentará perturbações (angina de peito) sempre que se produzam esforços físicos exagerados (desporto ou refeições demasiado pesadas), ou num momento de grandes emoções. Se o coágulo obstruir um tronco grosso das artérias coronárias. uma parte mais ou menos extensa do músculo cardíaco (parte contráctil da parede cardíaca, designada por miocárdio) não receberá sangue, deixando de se contrair e, neste caso, manifestar-se-á o enfarte domiocárdio.
Só um tratamento sintomático, administrado com a urgência requeri da, permitirá que o doente sobreviva. Contudo, apesar de todo o esforço, a parte do músculo que deixou de receber sangue terá endurecido irremediavelmente, causando uma diminuição da capacidade de funcionamento do músculo cardíaco.
Após o tratamento de urgência, existirá ainda a possibilidade de compensar os inconvenientes desta lesão localizada, reeducando o resto da musculatura cardíaca que, uma vez bem desenvolvida e tonificada com treino físico, compensará as deficiências da parte endurecida.
b) Hemorragia cerebral ou apoplexia
Não basta que o sangue se encontre nas veias, é necessário quecircule. O coração, encarregado deste trabalho, vela sem cessar para que o sangue possa circular e irrigar sempre todos os tecidos com normalidade. Quando surge um obstáculo que impede o avanço do sangue, o coração aumenta imediatamente a sua pressão propulsora, com o objectivo de vencer as resistências que se opõem à sua progressão.
No caso de um obstáculo permanente, como os ateromas, haverá necessidade de um esforço compensador constante. O estado de hipertensão crónica que daí deriva salva o doente, mantendo uma circulação mais ou menos normal. No entanto, todas as veias e os órgãos por elas irrigados continuamente estarão submetidos a uma pressão anormalmente elevada que se manifestará de modo desagradável, com dores de cabeça, vertigens, zumbido, ruídos nos ouvidos e, muito pior, com a ruptura de um vaso.
Uma ruptura poderá produzir-se em qualquer parte do corpo, mas será especialmente perigosa se se localizar no cérebro. A parte do cérebro por onde se derrama o sangue fica destruída e, com ela, todos os conhecimentos que aí se encontravam armazenados.
Como cada zona do cérebro é especializada no armazenamento de informações específicas, aquela em que se produziu a ruptura dos vasos provocará perturbações muito variáveis: perca de memória de alguns factos, perturbações da visão ou da fala, paralisia parcial ou total de um membro, paralisia de metade do corpo (hemiplegia) ou coma. A paragem brusca e mais ou menos total das funções cerebrais (ataque de apoplexia ou ataque cerebral) é frequentemente causada pela ruptura de um vaso e, o que é mais raro, por uma embolia ou uma trombose de uma artéria cerebral.
Arteriosclerose e decadência psíquica e intelectual
o ser humano não é apenas um corpo. Possui, também, uma vida psíquica que pode ficar completamente perturbada e, inclusivamente, destruída, quando o instrumento que lhe serve de suporte, o cérebro, deixa de funcionar correctamente.
A arteriosclerose dos vasos que irrigam o cérebro conduz a uma grave diminuição da sua capacidade funcional. A decadência intelectual e psíquica que daí deriva manifesta-se desagradavelmente de múltiplas formas. A capacidade de memória diminui bastante, o doente não se lembra do que disse e repete constantemente as mesmas coisas. Do mesmo modo, não se lembra igualmente do que se lhe disse e tem grandes dificuldades de concentração. Toma-se impossível manter uma conversa com nexo.
Incompreensões, confusões e esquecimentos aliam-se para tomar a vida quotidiana cada vez mais penosa. O comportamento do doente toma-se irracional e imprevisível, por vezes, até, agressivo. Poderá apresentar obsessões, a sensação de ser perseguido ou outras perturbações. Semelhante estado de incapacidade poderá prolongar-se por muitos anos, durante os quais a pessoa deixa de ter um comportamento responsável. Vemo-nos obrigados a dizer que vegeta e desperdiça o final da sua vida.
Tal situação, embora por um lado possa classificar-se de grave e dramática, por outro não pode ser considerada como uma doença no sentido normal da palavra, quer dizer, como um acontecimento terrível que atinge sem motivo aquele que com ela sofre. Efectivamente, admite-se agora em todo o mundo que as doenças cardiovasculares são doenças da civilização, quer dizer, doenças que se devem à vida que as pessoas levam.
Não se trata de uma fatalidade, nem de consequências inevitáveis do envelhecimento, mas sim do resultado de uma escolha errada da higiene de vida. As culpas atribuem-se principalmente à superalimentação em lípidos, ao abuso de excitantes, ao sedentarismo e ao stress.
Doenças cardiovasculares: um problema de canalizações
Como vimos antes, as doenças cardiovasculares têm como denominador comum uma obstrução, mais ou menos pronunciada, dos vasos sanguíneos e da bomba cardíaca. Por outro lado, constituem um exemplo patente das doenças de sobrecarga. Por conseguinte, o problema é análogo àquele que se apresenta aos canalizadores: o que teria entupido a canalização e como desentupi-la?
Além disso, as soluções que se podem adoptar são do mesmo tipo: desfazermo-nos dos “tampões”, comprovarmos a pureza do líquido em circulação e evitarmos um entupimento demasiado prolongado. Para um doente, isto significa limpar as suas veias, proporcionar ao sangue uma maior fluidez através de um regime alimentar e da estimulação dos órgãos-filtros, e, finalmente, libertar-se dos seus hábitos sedentários.
As doenças cardiovasculares são doenças da civilização e não consequências inevitáveis do envelhecimento.
De: Christopher Vasey
Do livro Compreender as doenças Graves Editorial Estampa Lda.
Antes de atingir o estado de lesões graves (gangrena, enfarte do miocárdio, hemorragia cerebral…), a degradação do sistema cardiovascular passa por várias etapas, caracterizadas por diferentes tipos de pequenos incómodos e lesões, sinais precursores dos transtornos graves.
Estes sinais representam outras tantas advertências para que o doente modifique o seu modo de vida, de forma a salvar o seu sistema circulatório e, com ele, a própria vida.
1. Alteração do sangue
É sempre a primeira etapa do início da degeneração do sistema circulatório. Recordemos que a composição do sangue está de acordo com os nossos hábitos de vida, isto é, dos alimentos, das bebidas, dos excitantes, das drogas e dos medicamentos que consumimos, do ar que respiramos, da nossa actividade física, dos nossos pensamentos, etc.
Tudo quanto introduzimos no nosso corpo é também introduzido no nosso sangue. Quando a forma de vida ultrapassa as capacidades orgânicas, os resíduos acumulam-se no sangue.
Quanto mais se amontoam as toxinas, os refugos e os resíduos dos metabolismos, mais espesso e viscoso será o sangue, facto que, como é evidente, dificulta a circulação. Os riscos da diminuição da velocidade e do estancamento da corrente sanguínea aumentam e, com eles, o risco de coagulação do sangue, no interior dos próprios vasos (trombose).
2. Formação de sedimentos nos vasos sanguíneos
Como efeito de uma viscosidade sanguínea permanente, os resíduos aderem às paredes dos vasos. É o mesmo que acontece com um rio, quando arrasta, no seu caudal, muito lodo e detritos vegetais. Quanto mais numerosos forem os resíduos, mais lenta será a corrente e mais saturado de limos e detritos estará o leito do rio.
No sistema circulatório do homem actual, os sedimentos são constituídos, principalmente, por matérias gordas (colesterol, por exempIo). Outros tipos de refugos (minerais residuais e resíduos nitrogenados … ) também aí se acumulam, quando tropeçam contra os sedimentos que lhes dificultam a passagem. Estas placas de resíduos que se formam contra as paredes dos vasos designam-se por ateromas.
Inicialmente isolados, acabarão por se expandir e, logo, unir-se. Quanto mais aumentar o seu volume, mais se reduzirá o diâmetro dos vasos sanguíneos. Desta forma, o espaço disponível para a passagem do sangue diminuirá também. Face à agressão que representa a formação de ateromas, os vasos defendem-se, calcificando as suas paredes ao nível destes sedimentos. Deste modo, tomam-se duros e rígidos (arteriosclerose).
Os músculos localizados nas paredes vasculares perdem a elasticidade que lhes permitia contraírem-se, acabando por paralisar e atrofiar-se. Com o endurecimento das paredes vasculares e a perda de elasticidade, deixam de poder auxiliar a circulação.
3. Deformação dos vasos sanguíneos
Irritados pela acção dos resíduos arrastados pelo sangue, asfixiados pela diminuição da velocidade da corrente sanguínea e anémicos devido à falta de nutrientes, os vasos ficam consideravelmente debilitados.
Aqueles cujo contributo é mais solicitado deixam de poder resistir normalmente à força da pressão sanguínea que sobre eles se exerce. As suas paredes, lassas, dilatam-se de modo permanente formando vesículas, como se fossem caminhos laterais sem saída (varizes, hemorróidas, aneurismas, etc.).
Estas deformações diminuem a velocidade da circulação do sangue, dificultando a irrigação dos tecidos.
4. A obstrução progressiva dos vasos
Os ateromas poderão tornar-se tão importantes que causarão o tamponamento progressivo dos vasos. Os tecidos orgânicos que dependem destes vasos sentem-se cada vez mais privados de oxigénio e de substâncias nutritivas.
A falta de oxigénio far-se-á sentir rapidamente: os músculos suboxigenados não conseguem contrair-se normalmente e, com isto, produzem-se cãibras e espasmos dolorosos.
lnclusivamente, as cãibras poderão manifestar-se após um pequeno passeio, quando as necessidades de oxigénio aumentam devido ao esforço, podendo levar o doente a coxear (coxeadura intermitente). Este fenómeno também pode produzir-se no músculo cardíaco. Ao espasmo do músculo cardíaco, devido a uma entrada de oxigénio insuficiente, associa-se uma sensação de angústia muito intensa, uma opressão torácica e dores fortes que se transmitem ao braço esquerdo, ao maxilar e às costas (angina de peito).
O alívio obtém-se através do repouso, uma vez que, nestas condições, diminuem as necessidades de oxigénio, mas os transtornos reaparecerão a cada esforço. Se não se efectuar uma reforma séria no sistema de vida, com o intuito de dificultar o desenvolvimento dos ateromas, alguns vasos acabarão por se obstruir completamente.
O sangue deixará de circular, ocasionando a morte de toda a região de tecidos dependente desses vasos. Poderão, até, apodrecer ou, melhor, gangrenar (principalmente nos membros inferiores, pois o sangue precisa de vencer a força da gravidade para abandonar os pés e percorrer o caminho de volta ao coração). A obstrução total de um vaso poderá também ocorrer bruscamente, em geral devido à formação de um coágulo (trombose) numa zona em que a vascularização esteja sensivelmente diminuída e na qual o sangue sobrecarregado se encontra parado.
A presença do coágulo e dos ateromas contribui para interromper completamente a circulação no vaso que está afectado. Derivam daqui dores violentas, cãibras, inflamação das paredes vasculares e fortes riscos de infecção. Se a obstrução ocorrer numa veia, trata-se de uma flebite; se for numa artéria, será uma arterite.
5. Esgotamento do coração
Para manter uma circulação normal nesta rede de canais obstruídos por sedimentos e que transportam um sangue denso, o coração terá que aumentar a potência das suas contracções.
Deste modo, o sangue que é expelido com maior força poderá vencer com mais facilidade os obstáculos que para ele representa a passagem dos ateromas e dos órgãos congestionados pelos resíduos, como o fígado e os rins.
Esta hipertensão compensadora, ainda que consiga manter uma vascularização suficiente dos tecidos, não deixa, contudo, de ser uma situação anormal, tanto para os vasos como para o coração, os quais poderão ceder sob o peso do trabalho. Nos vasos sanguíneos, esta situação manifestar-se-ia pela ruptura de uma parede vascular, produzindo uma hemorragia (hematoma, púrpura, hemorragia nasal, hemoptise … ).
No coração, as válvulas que comandam a entrada e a saída do sangue separam-se (cardiopatias diversas). O sangue, não podendo ser propulsionado correctamente, em vez de avançar continuamente, retrocede. A onda sanguínea já não possui a força nem o impulso suficientes (insuficiência cardíaca), amolecendo perante os obstáculos. A irrigação dos tecidos toma-se cada vez mais deficiente, porque a “bomba” já não funciona correctamente.
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