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O pé

 

É o nosso ponto de apoio sobre o solo, a parte na qual todo o nosso corpo repousa e confia quando se trata de mudanças, de movimentos. É ele que nos permite “crescer”, e por conseguinte avançar, mas pode também bloquear os nossos suportes, e por conseguinte manter firmemente as nossas posições. Logo, o pé representa o mundo das posições, a extremidade manifestada da nossa relação com o mundo exterior. Ele simboliza as nossas atitudes, as nossas posições declaradas e reconhecidas, o nosso papel oficial. Não devemos colocar o pé na porta para bloqueá-la. Ele representa os nossos critérios quanto à vida, até mesmo os nossos ideais.

Trata-se da chave simbólica dos nossos suportes “relacionais”, o que explica a importância do ritual de lavagem dos pés em todas as tradições. Tal coisa purificava a nossa relação com o mundo, até mesmo com o divino. Enfim, é um símbolo de liberdade, pois possibilita o movimento. Aliás, não é por acaso que os pés das meninas eram enfaixados na China. Sob o pretexto de uma significação erótica e estética, na verdade, isso permitia que a mulher ficasse fechada, aprisionada num mundo relacional de dependência diante do homem, limitando o seu potencial de mobilidade. Aliás, o mesmo fenómeno existe nas nossas sociedades ocidentais em que as mulheres “deviam” usar salto agulha para corresponder a um determinado esquema. Como que por acaso, foi possível constatar que a altura dos saltos dos sapatos diminuía proporcionalmente a “liberdade” sucessiva das mulheres. Hoje em dia, mais e mais mulheres, sobretudo as gerações jovens, só usam salto baixo.

 

Os males do pé

Eles exprimem as tensões que sentimos em relação às nossas posições diante do mundo. Eles querem dizer que há falta de fidelidade, estabilidade ou segurança nas nossas atitudes habituais, nas posições que sustentamos ou que adotamos. Aliás não é o que dizemos de alguém que não está tranquilo, que tem medo ou que não ousa declarar as suas opiniões ou posições – que ele “está andando de fininho” – ou, mais corriqueiramente, que alguém que se abstém, ou cujas posições atuais o colocam numa má situação que ele “está tropeçando nos próprios pés”? – Enfim, não é o que dizemos de alguém que não sabe que atitude tomar em relação a uma situação (relacional), que ele fica sem saber onde pisar?

Quando a tensão se manifesta no pé direito, ela está relacionada com o Yin (mãe), e quando está localizada no pé esquerdo, está relacionada ao Yang (pai). Aqui é o caso da Judith que me vem à mente. A mãe dessa criança de 9 anos trouxe para uma consulta, pois a menina sofria de uma neurodistrofia no tornozelo e no pé esquerdo, e o diagnóstico dos médicos previa que ela “acabaria” numa cadeira de rodas. Essa afeção óssea, especialmente profunda e reconhecida como sendo de origem “somática”, é tão dolorosa às vezes que pode levar algumas pessoas ao suicídio.

O que acontecia com Judith? Ela acabara de perder o seu pai, morto brutalmente. No entanto, esse pai que era tão importante, nos últimos tempos, vinha destruindo a sua imagem aos olhos da Judith, pois “procurava” o álcool para “resolver” alguns problemas.

Diante disso, Judith começou a sentir dores no tornozelo esquerdo quinze dias antes da morte do seu pai. Seu pai acabou decidindo “partir” completamente e Judith não soube mais onde se encontrava nem sobre o que se apoiar. Não havia mais um pai em quem “confiar”, não havia mais a representação da força, na medida em que a sua imagem começava a se dissipar.

Judith fez a mesma coisa com o seu tornozelo e o seu pé esquerdo que começaram a se desmineralizar. Fizemos um trabalho de desdramatização e, depois, de reconstrução da memória emocional, como também um trabalho importante de reequilíbrio das suas energias. Diante da urgência e da importância da manifestação, eu a confiei, paralelamente, a um amigo e médico homeopata que determinou um tratamento remineralizante fundamental e também a uma amiga que a ajudou com um trabalho de orto-bionomia.

Depois de quinze dias, Judith encostou as suas muletas e voltou à escola para grande surpresa do médico responsável, que teve a “psicologia” de acusá-la de simulação, pois, do contrário, era impossível que pudesse voltar a andar. Foram necessárias duas sessões a mais para interromper a reincidência que se seguiu a tamanha atitude “negativa” vinda de uma pessoa vista como capaz de representar “a autoridade” (simbólica paterna).

Do Livro Diga-me onde dói e eu te direi por quê de Michael Odoul

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