Compreender de que modo se pode degradar o terreno é darmo-nos conta de que ele depende em grande parte de tudo quanto é exterior para se constituir e renovar. As substâncias nutritivas contidas nos alimentos servem para a formação das células e dos líquidos orgânicos. A elas se deve o funcionamento do nosso corpo.
Se a quantidade de alimentos que ingerimos é superior às necessidades do organismo, este encontrar-se-á com uma sobrecarga de substâncias que não será capaz de utilizar. Obrigado a armazená-las, acumulando-as nos tecidos. Os alimentos podem, também, conter substâncias químicas ou sintéticas (corantes, conservantes, etc.). Como a natureza não previu qualquer utilização para elas, estas substâncias mais ou menos tóxicas ficam retidas nos tecidos e, por conseguinte, modificam o terreno de acordo com as suas características.
Mesmo quando a alimentação é adequada, os resíduos podem acumular-se no corpo. Isto acontece sempre que as preocupações, os medos, o stress, etc., causam perturbações no metabolismo. Nesses casos, a digestão efectua-se mal e os alimentos dão lugar a uma enorme quantidade de resíduos.
Todas as substâncias, tóxicas ou não, que se encontram em excesso no meio humoral impedem o correcto funcionamento do organismo e são consideradas a causa principal da degradação do terreno, dando, portanto, oportunidade a que surjam as doenças.
A sobrecarga de resíduos no organismo pode também ser causada por má metabolização e má utilização das substâncias alimentares, devido à falta de actividade física e à suboxigenação que dela deriva.
Por outro lado, é possível que se verifique um mau funcionamento dos órgãos destinados à eliminação das toxinas, obrigando o corpo, consequentemente, a conservar os resíduos nos seus tecidos.
Embora de forma ínfima, a actividade das células também produz resíduos. No entanto, quando estas estão doentes existe uma situação de perigo. Neste caso, poderão expelir resíduos muito tóxicos que, progressivamente, vão envenenando o organismo. Os factores que originam a contaminação humoral e a degradação do terreno são múltiplos, mas, em todos os casos, trata-se de resíduos constituídos pela ingestão de alimentos mal metabolizados. É por este motivo que a higiene de vida e, sobretudo, a higiene alimentar, é tão importante.
Em conformidade com os alimentos, as bebidas, os medicamentos e os excitantes que consumimos, degradamos o nosso corpo ou, pelo contrário, conservamo-lo são e resistente.
Existe outra causa importante de degradação do terreno, ocasionada não por um excesso no organismo mas por uma deficiência.
As carências ocorrem na falta de substâncias nutritivas indispensáveis para a construção e funcionamento do organismo. A composição do meio interior só se mantém desde que este receba os elementos necessários. Se a quantidade de um deles for insuficiente, imediatamente diminuirá o funcionamento orgânico. Quando esse elemento faltar por completo, as funções que dele dependem deixarão de estar asseguradas. O estado prolongado de carência poderá conduzir à morte. Nas nossas sociedades, em que reina a abundância, parece difícil adoecer-se devido a carências alimentares; mas, na realidade, isso é absolutamente possível e até muito fácil. Os alimentos actuais proporcionam-nos cada vez menos os elementos de que o nosso organismo necessita, uma vez que eles próprios sofrem de carências, devido aos métodos de cultivo e criação, assim como aos múltiplos processos de refinação por que passam (limpeza dos cereais, refinação dos azeites, do açúcar, etc.).
Outra causa de carência reside na destruição dos nutrientes por parte das substâncias químicas contidas nos alimentos ou medicamentos, substâncias que actuam como antivitaminas ou inibidoras dos oligoelementos. Regimes unilaterais, dos quais estão excluídos sistematicamente certos alimentos, contribuem também para produzir carências devido à falta de variedade nas ingestões.
Quando as carências se prolongam, o que ocorre quando os costumes alimentares desfavoráveis se mantêm, produzem-se modificações importantes na composição dos humores e um enfraquecimento progressivos e insidioso das resistências do organismo. Para além disso, e por causa da interdependência de todos os elementos nutritivos para a sua boa utilização, a falta de uma substância origina, numa reacção em cadeia, toda uma série de carências.
Um organismo carenciado funciona pior e elimina pior, pelo que a percentagem de sobrecarga aumenta
Um organismo carenciado funciona pior e elimina pior, pelo que a percentagem de sobrecarga aumenta.
A doença surge, pois, quando o terreno está sobrecarregado de resíduos e sofre de carências. O funcionamento do organismo está perturbado e já não consegue defender-se correctamente. Este fenómeno não é tão desconhecido como parece, pois a própria investigação médica se serve dele. Efectivamente, para estudar a acção dos micróbios, ou para experimentar novos remédios, pratica-se a inoculação de micróbios nos animais. Se estes gozam de boa saúde, isto é, se o seu terreno não está carenciado nem se encontra sobrecarregado de resíduos, as infecções não se declaram.
A forma de superar este obstáculo às experiências fala por si mesma: faz-se com que estes animais que gozam de boa saúde se tornem receptivos à agressão microbiana mediante uma degradação “científica” do seu terreno – alimentação carenciada, inadaptada às suas capacidades digestivas, demasiado abundante e cozinhada; ingestão de misturas de medicamentos químicos; provocação de um estado de tensão, encerrando os animais em ambiente obscuro, mantendo-lhes as patas dentro de água fria, etc.
A enfermidade surge quando o organismo está sobrecarregado de toxinas e sofre de carências
O que significa exactamente a palavra saudável?
Esta palavra é por nós usada frequentemente apenas para descrever a ausência de doença: se não sofre de cancro ou de qualquer espécie de doença cardiovascular e nunca faltou ao emprego, então é, com certeza uma pessoa saudável.Mas, sente-se constantemente cansado, abatido, constipa-se frequentemente, incapaz de fazer o quer que seja depois de um dia de trabalho a não ser estender-se em frente do televisor. Mesmo quando tem a intenção de fazer um longo e revigorante passeio a pé.
Se lhe falta energia, alegria e entusiasmo, será que se pode considerar uma pessoa verdadeiramente saudável?
Será saudável, quando sofre de insónias ou sente falta de apetência sexual?
Será saudável sofrer de obesidade ou tensão pré-menstrual?
– A saúde é muito mais que ausências de doença. É uma situação plena de bem-estar.
Saúde é:
– Trabalhar o dia todo e ter energia para tirar o melhor partido de uma saída nocturna.
Do livro Compreender as Doenças Graves de Christopher Vasey, editora Estampa
Podemos curar -nos de uma enfermidade sem necessidade de ingerir medicamentos; todos nós já passámos por esta situação. No entanto, quando alguém está doente, a principal preocupação é administrar-lhe um remédio. Esta necessidade de medicação a qualquer preço está implícida no nosso conceito de cura, já que se admite normalmente que “sem medicamentos, não há cura”.
Supõe-se que os medicamentos contêm todas as capacidades curativas necessárias para devolver a saúde a um corpo enfermo. E, no entanto, quantos doentes se curam sem medicamentos, tanto por não disporem deles, como por não quererem tomá-los? E os animais, como podem curar -se se não dispõem de qualquer medicamento? Será possível que exista outra alternativa?
A medicina natural fala da “natureza medicamentosa” ou da “força vital do organismo”. Esta não pode ser identificada com qualquer órgão do corpo, pois a sua existência só se manifesta pelos efeitos da sua acção. Hipócrates dizia que ela “é a força de coesão e de acção mais poderosa que existe. No entanto, é invisível; só o raciocínio pode concebê-Ia”.
Em estado de saúde, a força vital organiza, sincroniza e congrega todas as funções orgânicas. Trabalha incessantemente para manter o organismo no mais perfeito estado de saúde e equilíbrio.
Caso existam feridas, é ela que orienta a regeneração dos tecidos, através da cicatrização das chagas. Quando o corpo é agredido por produtos nocivos à sua integridade, quer provenham do exterior (venenos, micróbios, etc.) como do interior (toxinas e resíduos do metabolismo), alerta todo o organismo e posiciona o sistema de defesa.
Face ao aumento das sobrecargas e da contaminação dos tecidos, a força vital não permanece como uma espectadora passiva. Reage activamente para restabelecer a ordem no organismo, com o propósito de que este possa continuar a funcionar. Todos os seus esforços estão encaminhados no sentido de restabelecer a pureza do meio humoral, neutralizando as toxinas e expulsando-as para fora através dos diversos canais excretores. Estas descargas de toxinas podem assumir aspectos bastante espectaculares. São crises de desintoxicação, também chamadas de crises de limpeza ou crises curativas.
A eliminação é efectuada pelos canais que disso se encarregam habitualmente, empregando estes apenas uma energia maior. Através das vias respiratórias, expulsam-se ou expectoram-se os resíduos coloidais; pelas vias urinárias, as urinas carregadas e ácidas expulsarão os resíduos para fora. A pele elimina-os mediante a sudação, borbulhas ou eczemas diversos. O tubo digestivo também participa, através das diarreias libertadoras ou das abundantes secreções biliares.
Os canais requeridos dependem da natureza dos resíduos e da respectiva força dos diferentes órgãos; daí as diferenças importantes registadas de um indivíduo para outro e das múltiplas possibilidades de localização dos transtornos. Estes transtornos locais são a manifestação visível das reacções defensivas da força vital que tenta corrigir o mal profundo: a contaminação humoral.
Na medicina clássica, cada reacção defensiva local se classifica segundo as suas características, recebendo um nome próprio e, com a continuação, acaba por ser considerada uma enfermidade em si mesma. A natureza higienizadora das doenças já foi proclamada por Hipócrates: “Todas as enfermidades se curam por intermédio de alguma evacuação. O órgão do suor é comum a todos os males.” Thomas Sydenham, médico inglês do século XVII, escrevia: “A doença não é mais que um esforço da natureza que, para preservar o doente, trabalha com todas as suas forças para evacuar a matéria mórbida”. Mais recentemente, em 1924, o Dr. Paul Carton, o “Hipócrates do século xx”, declarava: “… A doença, realmente, não é mais que a tradução de um trabalho interior de neutralização e de limpeza tóxica que se realiza no organismo, com o propósito da conservação e da renovação […] a enfermidade exprime um esforço de purificação e de conservação e não um trabalho de destruição da saúde…”
O organismo é, pois, capaz de realizar sozinho a sua própria cura: graças à sua força vital, encerra em si a capacidade autocurativa. Hipócrates designava esta capacidade da força vital por “natureza medicamentosa”. Modernamente, utiliza-se o termo imunidade.
A imunidade é a capacidade de resistência e de defesa do organismo face aos processos mórbidos. Está presente desde que o indivíduo nasce, tanto no estado de saúde como no de doença. Mas as forças imunológicas são tanto mais fortes e eficazes, quanto mais puro e equilibrado for o terreno sobre o qual devem actuar, ou seja, o meio humoral. Pelo contrário, quanto mais saturado de resíduos e mais carenciado este estiver, mais diminuem as suas possibilidades de defesa.
Os diferentes elementos do sistema imunológico (medula óssea, gânglios linfáticos, linfócitos, etc.) encontram-se também, efectivamente, mergulhados no meio humoral, e a sua eficácia depende da qualidade deste meio. A degradação do terreno, a intoxicação e as carências podem atingir uma tão grande profundidade que o sistema imunológico perde todas as suas possibilidades de acção. O corpo fica, então, indefeso perante as agressões.
Ainda que na medicina natural se considere o terreno determinante, nem por isso se minimiza a nocividade dos micróbios. Os micróbios, os vírus e os parasitas são uma realidade e representam um perigo potencial sério para os organismos humanos. Não obstante, seria falso considerá-los como a causa primeira das enfermidades. Muitas doenças não se devem a uma agressão microbiana – por exemplo, o enfarte miocárdio, a diabetes, a asma, os transtornos digestivos, nervosos, etc. Além disso, se o sistema imunológico estiver a funcionar correctamente é capaz de defender o organismo de todas as agressões microbianas. Se assim não fosse, o ser humano já teria desaparecido há muito da superfície do globo.
Existe um equilíbrio subtil entre as forças defensivas do organismo e as possibilidades de agressão dos micróbios. Quanto maiores são as forças imunológicas, mais depressa se reduzem os micróbios à impotência ou se eliminam. Eles podem penetrar no corpo, mas sem produzir danos. Em troca, quanto mais débeis são as defesas orgânicas, melhores as condições para o desenvolvimento e proliferação dos micróbios, podendo estes invadir todo o organismo e levar a cabo a sua acção devastadora. A já célebre frase que, segundo parece, foi pronunciada por Pasteur no seu leito de morte, resume o que foi dito:
“O micróbio não é nada, o terreno é tudo.”
Um terreno degradado, ou seja, um terreno fortemente sobrecarregado e carenciado, é a condição ideal para o aparecimento de todas as doenças. Os micróbios só se desenvolvem sobre um terreno orgânico deficiente, e são destruídos quando esse terreno regressa à normalidade. Parece, então, claro que a agressão microbiana nada mais é do que a causa secundária da enfermidade.
A causa primária, fundamental, é um terreno degradado e, por conseguinte, receptivo aos invasores.
A cura não se obtém atacando a causa secundária, mas sim suprimindo a primária, quer dizer, promovendo o saneamento do terreno.
“A enfermidade exprime um esforço de purificação e de prevenção e não um trabalho de destruição da saúde.”
Do livro Compreender as Doenças Graves de Christopher Vasey, editora Estampa
Entre uma doença benigna e uma doença grave não existe diferença de género, mas de grau.
Fundamentalmente, todas as doenças têm uma natureza idêntica. Contudo, nas doenças graves o grau de deterioração do terreno e a amplitude dos danos são muito maiores do que nas doenças normais: as carências são mais profundas, as sobrecargas mais abundantes e as perturbações da vida celular mais importantes. O estado de deterioração do terreno é tal, que as funções orgânicas não só são refreadas ou dificultadas, mas se desviam ou sofrem interrupções. Como é possível, pois, chegar a um tal estado de desorganização da matéria viva?
Como já vimos, as doenças não aparecem subitamente; são o resultado de um longo processo. Doenças graves como o cancro, a SIDA ou a esclerose múltipla não afectam subitamente uma pessoa saudável. São manifestações terminais de um estado de saúde defeituoso que se vem desenvolvendo há anos.
O facto de as crianças poderem ser atingidas pelas doenças graves demonstra o enorme interesse que existe em evitar as curas fictícias, que apenas produzem uma saúde aparente, e reforça a necessidade de procurar curas que garantam uma saúde genuína. Só ela permite a transmissão de um terreno são e forte à nossa descendência.
Antes de se atingir o ponto de enfermidade grave, a doença atravessa três fases diferentes.
A primeira é a fase dos sinais de alarme. Uma pessoa que até então gozou de boa saúde verifica o surgimento de vários tipos de transtornos ligeiros. Estes indicam-lhe que saiu do seu estado de saúde perfeita. Trata-se, por exemplo, de uma falta de ânimo, de indisposições passageiras, uma tensão nervosa anormal, dificuldades de recuperação após um esforço ou aparecimento de borbulhas ou problemas digestivos. A pele pode também perder o brilho, e o cabelo ficar sem vida… Todos estes sinais indicam a existência de uma degradação do terreno. Estes transtornos poderão desaparecer mais rapidamente se a pessoa, efectivamente, os considerar meros sinais de alarme e actuar em conformidade, quer dizer, fazendo uma análise do seu modo de vida nos dias ou semanas que antecederam o surgimento dos sintomas e suprimindo então as causas que produziram as modificações do seu terreno.
A sua higiene de vida poderá por vezes não estar de acordo com as possibilidades orgânicas, devido a excessos alimentares, ao consumo abusivo de produtos tóxicos, a um excessivo esgotamento nervoso, a uma falta de sono, a um período demasiado sedentário. O terreno degrada-se sempre que o modo de vida ultrapassa a capacidade de trabalho do corpo e que as suas capacidades orgânicas diminuem por um motivo ou outro e não conseguem já realizar o trabalho que se lhes pede.
Se o paciente não ouve as advertências que o seu próprio corpo lhe faz e continua vivendo para além das suas capacidades, sem corrigir coisa alguma, o terreno continuará a sua via de degradação. O acumulo de resíduos e toxinas nos humores continuará a fazer-se, até alcançar o limiar da tolerância e a força vital reagir energicamente, para desencadear crises salvadoras de limpeza.
A segunda fase, a das doenças agudas, é, então, atingida. Ultrapassa-se a capacidade de suportar o nível de toxinas e todas as forças vitais do organismo se mobilizam para expulsar o excesso residual. De acordo com a localização ou com as características destas crises de limpeza, a medicina clássica fala de gripe, de sarampo, de bronquite, etc., etiquetando cada uma das reacções defensivas do organismo e considerando-as, inadequadamente, como doenças.
Regra geral, as doenças agudas são violentas e espectaculares. A febre que as acompanha revela a intensa actividade que o corpo realiza para se renovar. Por outro lado, esta actividade estende-se à do organismo, sendo necessários todos os canais excretores; por exemplo, nas gripes, os catarros das vias respiratórias, os problemas intestinais, as sudações profundas e as urinas carregadas. As doenças agudas são de curta duração, pois a intensidade dos esforços de purificação orgânica é suficiente para permitir um rápido regresso à normalidade.
Nesta fase, o erro consiste em confundir o efeito com a causa. Se tomam as reacções defensivas como a causa e não como o efeito degradação do terreno, a terapêutica não será dirigida a auxiliar o organismo nos seus esforços de depuração, indo, pelo contrário, reprimi-las como inoportunas e molestas. O tratamento dos sintomas anulará os esforços da força vital, ou seja, do sistema imunológico, e enviará as toxinas para as profundidades. A operação concluir-se-á com o aumento da percentagem de intoxicação e com a diminuição das capacidades defensivas do organismo.
Se o doente, satisfeito com o desaparecimento dos sintomas, retomar a sua anterior forma de vida, os resíduos voltarão a acumular-se. Cada novo tratamento paliativo a que recorra para reprimir os esforços de desintoxicação do seu organismo originará o aumento de resíduos e diminuirá a capacidade de reacção da força vital. Com a continuação, na etapa das enfermidades graves, poderá haver quem se admite por as forças imunológicas serem praticamente inexistentes. Contudo, ao longo da vida do paciente, nada mais se fez para além de destruí-las.
Na terceira fase, as doenças deixam de ser agudas, para se converterem em crónicas. A percentagem da sobrecarga é muito mais importante e a força vital que resta é insuficiente para poder realizar de uma só vez uma limpeza orgânica, como acontece no caso das doenças agudas. Assim, observar-se-á que as bronquites, os eczemas ou as crises hepáticas se repetirão com poucas semanas ou meses de intervalo. Os esforços de desintoxicação devem renovar-se constantemente, pois o meio interno nunca ficará suficientemente depurado.
Decididamente, nesta fase o corpo deve ser ajudado a partir do exterior, já que as suas próprias forças são insuficientes para pôr termo à contaminação. Pode proporcionar-se esta ajuda através de curas de limpeza, associadas a curas de revitalização destinadas a colmatar as carências, e através do uso de remédios fisiológicos específicos. Deste modo, o terreno recupera uma composição quase normal e a saúde pode restabelecer-se.
Lamentavelmente e com demasiada frequência, o paciente continua a acreditar que para cada doença se torna necessário um remédio, e que, quanto mais grave ela for, mais forte este deverá ser. Com esta convicção, o doente continuará a preocupar-se em fazer desaparecer os efeitos, sem jamais suprimir as causas. Desta forma, as resistências do terreno e das forças vitais diminuirão cada vez mais.
Nas três primeiras fases da doença, a força vital era ainda suficientemente forte para, com maior ou menor energia, efectuar a expulsão dos resíduos. Mas, uma vez chegados à quarta fase, a das doenças graves, perder-se-á esta possibilidade. Os resíduos e as toxinas já não podem ser correctamente expulsos do corpo. A partir deste momento, o organismo deve tentar habituar-se a esta presença maciça e perturbadora do seu funcionamento. Apesar do alto grau de intoxicação, deve travar uma luta pela sobrevivência.
Actualmente, cada vez nascem mais pessoas cujas forças imunológicas se encontram tão diminuídas que, com a evolução dos seus transtornos, nem sequer passam pelas três primeiras fases normais da doença. Desde o nascimento, o corpo sobrecarrega-se de resíduos sem que nenhuma crise de limpeza possa interromper a degradação do terreno.
Na quarta fase das doenças, as restantes forças vitais tentam ainda encontrar soluções para salvar o paciente, mas estas soluções devem ocorrer no marco restrito do meio interior e são cada vez mais difíceis de realizar. Efectivamente, para onde poderá a força vital enviar as novas ondas de resíduos e toxinas que não cessam de invadir os tecidos? Como poderá ela ainda proteger as células?
As células, que deveriam nadar em líquidos nutritivos vivificantes e puros, afogam-se em líquidos saturados de matéria residual e de substâncias tóxicas que carecem dos indispensáveis nutrientes. São obrigadas a viver numa espécie de lamaçal envenenado.
Podem, então, produzir-se todo o tipo de distúrbios. A vida celular afasta-se progressivamente da normalidade, e a matéria viva desorganiza-se cada vez mais, manifestando-se pela destruição de alguns tecidos ou órgãos (esclerose, lesões irreversíveis, cancro, deformações), com o aparecimento de comportamentos aberrantes por parte das células que já não estão submetidas ao controlo inteligente da força vital, ou com a incapacidade do corpo para se defender como um todo organizado frente às agressões microbianas e víricas.
Nesta fase, mais do que em qualquer outra, não se pode esperar que um remédio ou uma intervenção arbitrária estabeleça a ordem no caos orgânico. Resta apenas uma solução lógica: modificar o terreno tanto quanto possível, em benefício da saúde e, para isso, os recursos jamais serão suficientes.
As dificuldades encontradas pelos investigadores no aperfeiçoamento de remédios eficazes contra as doenças da quarta fase advêm do facto de que as curas não se podem obter por meio de atalhos. É necessário voltar atrás enquanto houver tempo, suprimindo e corrigindo todos os erros cometidos até esse dia, ou seja, agindo profundamente sobre o terreno.
É o único meio de obter uma remissão ou uma cura verdadeira, como já o provaram todos aqueles que assim procederam.
A doença passa por três estádios diferentes antes de atingir a fase das doenças graves, que são as manifestações terminais de um estado de saúde defeituoso que se vem desenvolvendo há anos.
Do livro Compreender as Doenças Graves de Christopher Vasey, editora Estampa
Que se passa, realmente, com o meu corpo? Por que motivo estou doente?
Estas são perguntas que um doente raramente faz a si mesmo. Em troca a sua atenção e a daqueles que o rodeiam está centralizada nos sintomas patentes, desagradáveis ou dolorosos da sua enfermidade. Por outro lado, todos os meios postos em funcionamento estão prioritariamente encaminhados para fazer desaparecer esses sintomas o mais rapidamente possível.
Como é que o organismo físico fica fora de equilíbrio, e porque começam as condições de doença?
Quais são as causas subjacentes dos males a que chamamos artrite, doenças cardíacas, diabetes e cancro? Replicar vigorosamente contra a agressão representada pela enfermidade parece ser a atitude mais lógica. Normalmente, actua-se como se a doença fosse uma entidade exterior e independente do indivíduo que, ao penetrar nele, faria com que, subitamente, ficasse doente.
Este ponto de vista leva-nos a considerar o enfermo como uma vítima inocente a quem se torna necessário ajudar, pois, “por infelicidade”, sofreu uma agressão patológica.
As expressões utilizadas para falar da enfermidade traduzem claramente este conceito. Dizemos que “caímos” doentes, que estamos “aflitos” ou que “apanhámos” uma doença…
Segundo este conceito, transmitido pela medicina clássica, cada “agressor” determina perturbações diferentes que lhe são próprias. Por conseguinte, o número de doenças é igual ao dos agressores; é aquilo que se denomina de pluralidade patológica.
Na medicina natural, consideram-se todas as enfermidades como manifestações distintas de um mesmo e único transtorno. Esse denominador comum, esse mal profundo de onde saem todos os outros males, está sedeado no meio humoral que também se designa por terreno.
O terreno é o conjunto de células e líquidos (ou humores) nos quais se encontra mergulhado: o sangue, a linfa, o líquido cefaloraquidiano, etc. Os líquidos intra e extra celulares representam 70% do peso do corpo. A sua importância é capital, posto que constituem o meio ambiente das nossas células.
Elas dependem totalmente desses líquidos que lhes asseguram os nutrientes, a eliminação das toxinas que resultam das suas actividades e a transmissão de mensagens de uma célula para outra, de modo a garantir a sua acção coordenada e harmoniosa. Do mesmo modo que o ambiente em que o ser humano se insere pode favorecer a sua saúde ou provocar uma doença, dependendo de estar ou não contaminado, também o meio ambiente que rodeia as células é de terminante para o seu estado de saúde.
Se, se encontram num meio carenciado de oxigénio e sobrecarregado de resíduos, o seu trabalho não poderá desenvolver-se correctamente. O nosso organismo é constituído por células. Se estas não funcionarem normalmente, também o organismo trabalhará mal, e é a ele que se atribuirá a doença. Existe uma composição precisa e ideal do meio interior que permite o bom funcionamento orgânico, isto é, o trabalho normal das células.
Toda a mudança quantitativa ou qualitativa demasiado significativa destes líquidos conduz à enfermidade. Por este motivo, as forças vitais do organismo lutam constantemente com o propósito de manterem este meio humoral em perfeito equilíbrio. Trata-se, principalmente, de neutralizar e expulsar para o exterior os resíduos e toxinas procedentes dos metabolismos (reacções bioquímicas que se produzem no organismo).
Realizam esta depuração os órgãos “filtrantes e eliminadores”, excretores: fígado, intestinos, rins, pele e pulmões. A saúde é, por conseguinte, uma forma instável de equilíbrio que é necessário recuperar incessantemente. Se, por exemplo, por excessos alimentares ou ingestão de um tóxico como o álcool ou um medicamento, o terreno ficar sobrecarregado com alguns venenos, as consequências não são dramáticas, pois o corpo é capaz de se auto purificar, restabelecendo a composição ideal dos humores. Por outro lado, se estes desvios deixarem de ser ocasionais e se tomarem hábitos quotidianos, rapidamente se ultrapassará a capacidade que o corpo possui de restabelecer o equilíbrio.
O sangue passará, então, a acumular resíduos que acabarão por se depositar nas paredes dos vasos sanguíneos. Com a diminuição do diâmetro dos vasos e a coagulação do sangue, a circulação sanguínea será cada vez mais pobre. Diminuem as trocas entre o sangue e os soros celulares. Os resíduos que as células expulsam constantemente acumular-se-ão nos tecidos, em vez de abandonarem rapidamente o organismo. Os órgãos, cada vez mais saturados por esses resíduos, não poderão desempenhar correctamente a sua função, e os excretores, congestionados, não conseguirão já assegurar uma depuração satisfatória dos líquidos orgânicos. Todas as actividades estarão perturbadas, tanto a nível das células como das enzimas, dos glóbulos brancos … ou das reacções bioquímicas.
O estado de contaminação do meio humoral em que então se encontra o corpo é aquele que a medicina natural considera como O ESTADO DE DOENÇA EM SI. Este estado manifesta-se em todas as doenças. Constitui a sua natureza profunda, a sua base comum. Então, não é por causa de uma doença que “entra” no corpo que o estado geral se degrada; o estado de deterioração em que se encontra a zona é que faz com que a enfermidade surja. Como os líquidos orgânicos continuam a circular e a desempenhar incessantemente as trocas entre si, as toxinas distribuem-se necessariamente por todo o organismo.
Nenhuma parte do corpo escapa. Daí, o aforismo fundamental da medicina natural: “A enfermidade é geral e única, é a contaminação humoral.” Este conceito de unicidade mórbida opõe-se ao conceito de pluralidade mórbida da medicina clássica. Parece existir uma contradição entre este conceito de enfermidade única e as múltiplas formas, claramente diferenciadas, das doenças que conhecemos.
A medicina natural considera cada perturbação local não como uma enfermidade em si, mas unicamente como a manifestação “superficial” do mal profundo, resultante da contaminação preexistente. Esta perturbação só se declarou devido à anterior sobrecarga residual do terreno. Os transtornos locais são comparáveis aos picos de um icebergue. A parte mais importante do icebergue permanece invisível: é o terreno sobrecarregado. Os transtornos locais não são, pois, a doença em si, mas apenas as consequências secundárias do mal primitivo: o meio humoral sobrecarregado de toxinas.
Daí o outro aforismo da medicina natural: “Em essência, não existem enfermidades locais, mas sim enfermidades gerais.” Isto é evidente, posto que os transtornos locais evoluem em função do estado do terreno: quanto mais este se deteriora, mais aqueles aumentam.
Quer se trate de uma gripe, quer de um tumor canceroso, o processo é o mesmo. O aumento da percentagem de toxinas no organismo agrava o estado gripal e favorece o desenvolvimento do tumor. Os sintomas locais diminuem, paralelamente à diminuição da percentagem da sobrecarga.
Desaparecem quando o terreno recupera o seu equilíbrio, sempre que essa recuperação seja possível. A localização dos transtornos “superficiais” depende das debilidades orgânicas individuais. Todos os órgãos estão mergulhados nos líquidos que se encontram sobrecarregados de resíduos. Todos são irritados e agredidos de forma semelhante pelos sedimentos tóxicos.
Os primeiros a ceder, a não suportar o ambiente que os cerca, são os hereditariamente mais débeis ou os mais utilizados: por exemplo, a garganta para os que, por motivos profissionais, têm que falar muito, os nervos, no caso das pessoas tensas, as vias respiratórias para os que inalam muito pó ou gases nocivos nos seus locais de trabalho (mineiros, pintores, etc.).
A enfermidade é uma só, mas manifestasse de forma distinta em cada um. Devemos a Hipócrates, pai da medicina, o conceito da unicidade mórbida. Cinco séculos antes de Cristo, escrevia:
“A natureza de todas as doenças é a mesma. Creio que a sua manifestação sob tantas formas distintas se deve à grande diversidade das partes em que o mal está situado. Efectivamente, a sua essência é uma só: tal como a causa que as produz.”
Vinte e cinco séculos depois, Alexis Carrel, Prémio Nobel de Medicina em 1912, declarava: “O corpo está doente na sua totalidade. Nenhuma enfermidade permanece estritamente confinada num só órgão”.
Do livro Compreender as Doenças Graves de Christopher Vasey, editora Estampa
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